Primavera / Psicose

Escrevi os versos abaixo em 1962, aos 12 para 13 anos, quando fazia o ginasial no seminário dos padres paulinos, no quilômetro 17,5 da Rodovia Raposo Tavares, perto de Cotia. Meu professor de português gostou muito e levou para casa pra mostrar pra mulher. Dei o nome de Primavera, mas depois, quando voltei para Santos, meu irmão Albano disse que Psicose era melhor. E assim foi feito.

E na manhã primaveril do campo,
A flor mais linda dos jardins do mundo
Surgiu-me a mim envolta pelo manto
Do fino orvalho de um amor profundo.

E nela eu descobri tanta beleza,
Toda beleza, o esplendor da vida,
Que o coração tomado de tristeza,
Temi perdê-la, a minha flor querida.

Enlouquecido a destalei do galho.
Assassinada, mas só minha.
E pura

E a derradeira lágrima de orvalho
Rolou-me pela mão que a tem.
Segura

Receita para estes tempos

Tudo bem!

Bom dia, Sol! Bom dia, dia!
Amaryl, Omeprazol, Amoxilina!
Sonho a volta da alegria,
De algo novo, sem rotina!

Bom dia taqui, taquicardia!
Salve, salve, amiga angina!
Nem te ligo, tibitate arritmia.
Vá ver se estou na esquina!

Vias aéreas ou baixas.
Tudo certo, tudo Rivotril.
Cadê as sagradas caixas
Do inescapável Isordil?

Viva bem, viva contente,
Seja smart, seja sagaz
Tenha sempre um bom estente.
Um ou dois ou três ou mais!

Outubro, 17

Hoje esqueço o boné
Com que me cubro
Pois é outubro
E o verão se insinua
No céu, na rua.
No ar, até!
 
Apogeu vermelho das pitangas!
 
Outubro do sangue
Rubro, remoto na neve,
Que aqui não ferve.
E lá abunda.
Revés do nosso sol
De alma branda.
 
Revolta amável destas tangas!
 
De novo outubro.
E se a cabeça descubro,
Quisera liberar igual
Os pés das vestes,
Pisar sem dor o mal,
Subir mil everestes!
 
São Paulo, 17/10/2017