Vou regar as plantas

Parabéns e boa sorte aos heroicos combatentes que seguem na luta. Soldado abatido logo na chegada das primeiras hordas inimigas, humilde deponho as armas e me rendo de forma incondicional. Nunca tive filiação partidária, mas procurei ser sempre fiel a princípios e ideais nos embates políticos. Continuo assim. Por isso, não me disponho a participar de uma guerra que se anuncia nojenta e que tentei evitar com meu voto. Ou seja, lavo despudoradamente as mãos.

Minha única preocupação com relação ao segundo turno será entender que postura mais digna adotar no dia 28 de outubro. Votar em branco, anular o voto ou não comparecer. Esse dilema nunca me assaltou, desde que me devolveram o direito de eleger presidente, após a ditadura militar, estreando com a opção por Lula contra Collor. Agora, tornou-se inescapável, diante da escolha que nos restou entre terror e horror.

Até lá, e talvez daqui para sempre, meus refúgios serão a família, as plantinhas de Itupeva e algum jogo do Peixe. Além, é claro, da manutenção deste blog, tão novinho e ainda tão frágil. Tentarei me concentrar principalmente nas memórias. Seletivas, elas tendem a ser muito melhores. Pelo menos, não precisarei tratar dos excrementos que, com afeição, deixo aos cuidados daqueles a quem cumprimentei no início deste texto.

Antes, porém, de me despedir definitivamente do assunto, permitam-me uma avaliação sem qualquer valor ou interesse sócio-político, mas que faço questão de externar. Entre as alternativas restantes, que considero igualmente terríveis, penso que a vitória petista é a pior para o país. Não é declaração de voto, até porque, como já disse, não votarei em nenhum deles. E não é contestação às urnas. Entendo que quem vencer tem de levar, desde que governe exatamente como seus eleitores esperam.

Explico. Se o capitão vencer, dificilmente conseguirá impor ao país suas ideias antiquadas e autoritárias, porque terá na oposição principalmente o PT e aliados à esquerda. E sabemos como essa gente sabe ser do contra. Já o candidato do Lula, se eleito, terá a compreensão da inteligência nacional e internacional para retomar a prática de aparelhamento do governo e para usar as estruturas do Estado como extensões dos seus interesses pessoais e partidários.

Absolvido do mensalão e do petrolão, de todos os desvios de que nunca teve a grandeza de se penitenciar e, também, da desastrosa administração paulistana, no caso direto do alter ego do Lula, o esquema petista estará de mãos livres para de novo lambuzar-se à vontade. Sem que qualquer voz se levante.

Publicado por

Marcos Roberto Augusto da Fonseca

Jornalista aposentado, casado, duas filhas, um neto e dois poodles. Santista de pai e mãe, time e cidade.

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